Nova âncora, novo porto

Memórias derretem-se por dentro como fragmentos flamejantes com a certeza de que vão deixar rasto, pequenos excertos visionários corroem-me por dentro, mas ainda assim mantêm-me viva, existem segundos, minutos, horas e até dias que estão congelados no meu coração, porque ele aquece para guardar as pessoas, mas congela para preservar os momentos, porque a frieza é o alimento da distância, quando a amizade é o alimento da vida. É tempo de mudar de rumo, de remar contra o misto de emoções que se tornaram ondas em marés de inseguranças, é tempo de respirar fundo e de inverter o foco para onde olho, é tempo de contrariar os ares frios que me percorrem a pele, é tempo de decifrar o código do meu futuro. Vou caminhar em direção ao mar, vou em busca de novos horizontes, seja metaforicamente ou não, mas vou com a convicção de que noutro lugar esteja uma parte de mim, intocável e sonhadora. Vou guardar-te a areia da praia, vou trazer-te a leveza dos ventos do norte, vou ensinar-te como a brisa de todas as manhãs, por segundos, me levou a ti e ao teu abraço, vou explicar-te como é bom sentir o ar salgado e como a margem com espuma branca me pode levar a ti no pensamento, porque afinal posso navegar em barcos imaginários e ver-te a acordar, ver-te a chegar tarde à faculdade e ver-te a adormecer por entre histórias de televisão. Também a nossa poderia estar iluminada por holofotes e também eu poderia não estar a suplicar por forças neste momento, mas o comboio segue sempre a sua linha, as gaivotas todos os anos migram, as mercadorias seguem o seu caminho, os próprios caixões têm um destino traçado, os caules das flores dançam consoante o sol ou simplesmente eu calço botas quando está frio. Há coisas destinadas, mas a amizade é, por si só, um destino e já diz o fado, que não é por uma andorinha morrer que acaba a primavera. E lembra-te que, espacialmente, pode mudar o porto, mas nunca o porto de abrigo! 

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Zaask

Escritora e Fotógrafa