Nunca te abandones a ti próprio

Disney Palace

O amor é como a morte. O mais terrível não é o facto de acabar, mas a forma como termina. É quase como se nos dessem todos os ingredientes de um sonho, nós começamos a concretizá-lo e depois roubam-no. E tudo isto sem anestesia. Sem o psiquiatra dentro de nós a cuidar das nossas escolhas. Sem a nossa consciência a intervir. E sabem porquê? Porque a nossa intuição fica destruída, a nossa visão do mundo apaga-se, despedaça-se o resquício de racionalidade que ainda existia, evapora-se toda e qualquer forma de feminismo. Ficamos sem norte, sem hábitos coerentes de rotina, sem o brilho nos olhos que tivemos ao nascer. Demos o melhor de nós, pusemos à prova a nossa capacidade para amar, fizemos do nosso céu as prioridades dos outros. E o que recebemos? O vazio. É aí que duvidamos da nossa própria sombra, pomos em causa todos os sentimentos do dicionário, questionamos todo e qualquer ato de carinho, tentamos traduzir vezes sem conta a palavra amor... Até percebermos que o seu significado já não existe na nossa cabeça nem é justificado pelo nosso coração. Pior do que abandonar alguém é abandonarmos-nos a nós próprios. Foi por isso que lutei pela única pessoa que valia a pena, a única pela qual dependia e depende a minha felicidade. Eu. Apenas eu. Sonhar acarreta muitos riscos. Eu sei. Um grande sonho pode trazer consigo a maior das desilusões. Sonhar é para os corajosos, é para aqueles que se sentem com a capacidade de enfrentar a maior desilusão, e às vezes chorar é tudo aquilo que precisamos. As pessoas fortes choram. Reservam parte do seu dia para expulsar as desilusões. Conseguimos deparar-nos com cada lágrima de dor e ainda assim lutar, berrar se for preciso, revolucionar as nossas entranhas mais profundas e dizer ao eco do nosso coração que nós vencemos! Cuidámos de nós! Estamos no pódio da vida! Soubemos lidar com a angústia de tal forma que agora encaramos o sofrimento como algo natural, algo leviano, totalmente ultrapassável. É tão mágico sermos lúcidos e termos forças suficientes dentro de nós para nos suportarmos a nós próprios. Como é bom sentirmo-nos em casa, em consonância com a nossa essência, em equilíbrio com os nossos valores e a fazer juz àquilo que sabemos que sempre fomos. Como é bom andar na rua ao sabor dos nossos próprios passos. O grande problema é que só fazemos tudo isto quando chegamos ao limiar da cegueira. Só nos importamos quando a verdade é proibida, quando queremos tanto ser felizes que aquilo a que chamamos de vida se torna um veneno. E aí, só aí, é que passamos a pensar em nós, enquanto todos à nossa volta sempre viveram do seu próprio egoísmo. O que sou agora não sei, mas sei que rima com fortaleza. Agora não sonho com os castelos das princesas ou com os contos de fadas cor de rosa, mas sim com os alicerces de todo e qualquer palácio, porque todos temos um dentro de nós, basta não o deixarmos cair.

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Zaask

Escritora e Fotógrafa