Poetas de papel

Entro no teu quarto bagunçado e de sabor a café
Será o cheiro da insónia ou um ultimato de fé? 
Espalhaste papéis rasgados que falam daquilo que nunca falaste
Versos cúmplices que desmascaram aquele amor que negaste 
Fomos poetas de papel levados pelo vento
Trocámos o amor da alma pelo amor ao talento
Pecaste por silêncio e lutaste por defeito
Eras um remetente anónimo, de anonimato imperfeito
O amor transforma o tempo mas o tempo é a chave do amor
E na falta da areia na ampulheta, tornas-te apenas um ator
No fundo refletes a sociedade, repleta de oportunidades fugazes
Aquela que te engana com blasfémias audazes
Aquela que te faz sentir como um outsider recém eleito
Que fala da tua humanidade como o teu pior defeito
Mesmo que duvidem que é real a tua bondade
Um dia verão que essa força que te move não é só caridade
É, sobretudo, verdade e um dom sentimental
Que faz de ti um qualquer ser humano especial 
Vamos estando, vamos andando, neste gerúndio mal resolvido
De ego tremido e telhados feitos de vidro
Todos com um futuro interrompido ou um sentimento encobrido
Umas vezes restabelecido, por outras sobrevivido 
Sempre a procurar um escape à triste realidade laboral
Como se o ser humano funcionasse por osmose emocional
Mas é na vontade de desistir que existe a intuição da evolução
Se a mudança é triagem, o futuro é maior paixão
Porque sonho que é sonho, nunca evapora, apenas espera
Espera por quem não escolhe atalhos e por um sorriso que se regenera
Já dizia alguém que portas reais não se fecham com um "não"
Só não deixes que a infelicidade seja o teu ganha pão
A vida não é só aquilo que nos rodeia, a vida somos nós 
Nutre a tua alma e procura a tua própria voz
Todos somos a nossa ilha emocional, a nossa causa e consequência
Que a saúde mental seja a nossa maior tendência 
Saudades de quando falava de entes queridos no verbo do presente
Enquanto procuro por ela, procuro um sonho que me sustente
Procuro no mundo a bondade dela e a sua sensatez
Valores humanos que rimem com uma eterna primeira vez 
Foram tantos os que escreveram em mim ensinamentos
Pergaminhos humanos que levaram a aperfeiçoamentos
Nunca ditos aos sete ventos, apenas absorvidos nas escolhas da vida
Para viver livremente nesta caminhada incompreendida
Hoje sou poeta de papel que fala em tom de poesia
Se sonhar fosse escrever, eu seria caligrafia 
Espalho a metáfora da palavra em poemas humanos
Procuremos demover o ódio dos tiranos
Que o amor seja o atrito destes sonhos mundanos
E que sentir seja a premissa destes corações urbanos

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Zaask

Escritora e Fotógrafa