ECO

Chego ao topo da montanha e a única coisa capaz de me surpreender é o eco do meu grito moribundo. Não o da minha voz no vazio, mas o eco dos corações dos homens. Estamos na geração de corpos que são como carcaças que tanto devem o seu valor aos astros. Exteriores requintados a esconder interiores vazios. Somos ecos repetidos pela noite fora, como o vácuo de uma música triste que te faz lamentar. Procuramos pessoas vazias para preencher o nosso vazio, pessoas cujas palavras vazias nos aquecem a alma e nos criam a ilusão de corações preenchidos. Tudo uma verdadeira farsa! Há um desequilíbrio na lei da ação-reação. Entregamos o universo que ninguém nos consegue oferecer e recebemos o vazio que não sabemos dar. Será um papel que assumem? Será só uma fase da vida? Ou deixou realmente de existir seres humanos para haver apenas fragmentos deles? Parece uma escalada difícil e que demoraria uma vida a concluir, mas é uma montanha já escalada vezes sem conta. Quem transborda amor percorre essa montanha anulando os seus ecos interiores. Os mesmos que acabam a ouvir o eco dos outros, que se resumem ao silêncio de uma relação que nunca aconteceu. Os mesmos que lamentam a pobreza humana mas que ainda esperam dela alguma coisa, como o sonhador que se lava com a lama da tempestade. Como se sonhar fosse fraqueza, como se o sonho só fosse um direito de quem espera pela tempestade. Como se amar fosse sinónimo de sonhos frustrados. Viveremos num mundo por si só utópico? Ou será utopia apenas aquilo em que acreditamos? As palavras são, hoje, como abraços invisíveis que não aquecem, a motivação tornou-se num isco amargo, a esperança converteu-se numa vela acesa ao vento e o amor como uma casa assombrada. A casa da saudade em relação a tudo aquilo que não se viveu. A luta das relações passou a ser feita com espadas de papel, onde não se pretende ferir mas também não se pretende amar. O individualismo refletiu-se numa gaiola emocional impermeável à conquista e aos erros. Mas quem se impede de errar também se impede de acertar. É uma geração imprudentemente prudente, que se trava na confiança, se diminui em alma e que recalca o seu passado em vez de o aceitar e resolver. Somos produtos da hipnose de um Deus que não conhece o amor. Somos fugitivos de nós e dos demais. São tempos difíceis para quem acredita na bondade das pessoas. Nós, sonhadores, acabaremos numa praia a avistar o mar, sozinhos e à margem dos nossos sonhos. Em frente a um mar que tanto nos poderia falar de liberdade, intensidade e envolvência, mas apenas nos fala do eco dos seus búzios. Os mesmos que são devolvidos à terra para o mar não ter mais almas vazias consigo. Que essa margem seja o despejo dos búzios e dos teus ecos interiores. Que essa margem seja o naufrágio de todas as ilusões que viveste, para que nós mesmos não naufraguemos.

Comentários

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Zaask

Escritora e Fotógrafa