A outra face de um elogio

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Deixei de acreditar nos elogios vindos do nada, daquelas pessoas que nos querem impressionar e que são uma poeira na nossa vida. São pessoas que às vezes se lembram que existimos. Mas uma mulher fiel não existe momentaneamente. Há homens que se esquecem que os valores que regem uma grande mulher são os pilares que sustentam o mundo. Como dizia Saramago, são as conversas das mulheres que mantêm o mundo na sua órbita. Disse ele e diria qualquer mulher racional. Quero acreditar nisso. Eu acredito na lealdade de uma mulher, de uma boa mulher. Acredito, porque sei o quanto é indiferente essa qualidade para pessoas que nunca o saberão ser. Tornei-me descrente em relação às palavras forçadas e despejadas. Prefiro algo subtil. Um elogio sentido, um céu estrelado, um olhar rebuscado, uma promessa cumprida, um bilhete escrito à pressa, um ciúme desvendado pelo vento, um amor coberto pela chuva, um pretexto para estar presente... É disto que tenho saudades. Afinal, aquilo de que temos mais saudades é sempre do que ainda não foi vivido e cumprido. E sim, um elogio verdadeiro renova o nosso dia, qualquer mulher o admite. Os elogios que considero mais puros vêm do olhar dos animais, vem da segurança dos meus pais, vem da última vez que senti a força de Deus nos meus braços. Os elogios mais sinceros vêm nos raios de sol que nos fazem abrir os olhos de manhã, vêm daquela melodia que passou na rádio e nos fez lembrar de todos os momentos em que fomos guerreiras e dos quais nos orgulhamos, os elogios mais apreciados vêm daqueles que menos nos conhecem, porque não conhecendo fraquezas ou preconceitos arriscam em dar-nos um elogio. Os elogios mais mágicos são aqueles que são inconvenientes e começam por não ter uma intenção, mas um mero gosto pessoal em agradar a alguém. Aprendi que um elogio é muito mais do que um "és bonita", muito mais do que um cochicho sorrateiro que se ouve pelos corredores da escola, muito mais do que um futuro pensado à pressa, um elogio é muito mais do que uma pele corada, muito mais do que uns joelhos no chão, muito mais do que uma sms extensa e repleta de promessas que tanto devem à verdade e nada pagam à ilusão. Sabes, eu precisei de ti precisamente quando mais me elogiaste, porque cada pedaço dessa espécie de carinho era uma incerteza, as raízes dessas tuas palavras traçavam a maior das ausências dentro de mim. Os elogios chegaram a despedaçar-me porque quando os recebia sabia que era um mau presságio. Foi quando eu mais precisei de ti, e dos teus elogios, que me deixaste. Foi quando as minhas lágrimas proclamavam por um abraço que tu fazias questão de fechar os braços para ti mesmo. E agora penso nas vitórias que eu concretizei, os feitos que alcancei somente para preencher o espaço vazio que estava preenchido por elogios efémeros. Um tanto contraditório. Tudo porque percebi o outro lado de um elogio. Percebi que existe vida para além de uma palavra bonita seguida de um sorriso rasgado. Tudo porque percebi que consigo viver por conta própria. 

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Zaask

Escritora e Fotógrafa