Beleza Prematura


Acordei fria. A nostalgia arrefece. Percebi que não quero segurar rosas de plástico cotadas como únicas. Os meus olhos não querem compactuar com uma singularidade oca que só é aplaudida pelos egos mais frágeis. Não quero a beleza projetada por mil homens. Como se fosse preciso força para erguer a simplicidade. Não quero a beleza infiltrada, forçada ou cegamente romantizada. Quero a beleza fácil, a despojada, a real. Gosto da beleza prematura. Aquela que chega antes do tempo. Aquela que existe no entrelaçar dos nossos pés no final de cada dia. Não foram precisos contratos para as árvores nascerem nem são precisos ornamentos para um momento ser melhor que outro. As sensações encarregam-se de nos dizer que o estrelato é só um grito azedo de uma criança. É só alguém a tentar ser perfeito à pressa. O peso do destino está nos nossos corações e nos nossos pés descalços. Não há sapato de cinderela que consiga mascarar ecos interiores. Chega de rodopiar incessantemente em busca de nada, chega de sermos engolidos por uma cidade que nos tentou convencer de que havia espaço para respirar. Chega.

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Zaask

Escritora e Fotógrafa