Entre o Sono e o Sonho

(texto sugerido pela Chiado Editora)

Entre o sono e o sonho há uma solidão sem nome
O que fui e o que serei é tudo o que me consome
Sou refém de um tempo que me amordaça
E do vazio de uma realidade tão escassa
Ainda me vejo a correr na minha infância
Ainda hoje sou essa bonita desilegância
Ainda hoje sinto desavergonhadamente
E respiro sentimentos explosiva e cegamente
Quero a liberdade das crianças e o seu cavalgar
Quero poder contar as estrelas sem saber romantizar
Entre o sono e o sonho há uma saudade sem fim
Serei sempre a parte cumprida do teu eterno jardim
A saudade que arde é a mesma que me mata
O precipício e a morte são a mesma pupila que dilata
És o que resta de mim, és a flor doce que o mundo elegeu
Dá-me alento saber que serei algo sempre teu
Ainda vejo o recorte do teu sorriso nos sonhos
Como se se tratassem de laivos de futuros risonhos
Ainda te fotografo enquanto te poetizo
Ainda te recordo enquanto te eternizo
Entre o sono e o sonho há um coração por habitar
Sinto-me acorrentada pela vontade de cuidar
Sou o livro esquecido e a inglória luta pela sorte
Sou o amor prematuro, sou o retrato da morte
Sou o avesso do padrão, sou a contradição
Sou a intensidade que o mundo vê como maldição
Sinto uma solidão mortífera que não se quer calar
Ela é a voz rouca no meu corpo que já não sabe abraçar
Sou a bomba relógio que se despedaça ao luar
E quando o mundo quiser amar, talvez eu já só seja esse luar.

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Zaask

Escritora e Fotógrafa