Mar Português


(texto concebido para a Chiado Editora, livro "Alma de Mar" - Vol I)

Não sei até onde a raça humana quer chegar, mas sei que somos pequeninos ao teu lado. Não sei até onde vou, mas permaneço. Como os pescadores que remam pelo caminho e não pelo destino. Como as redes de peixe que são lançadas e que ainda nada sabem sobre as profundezas.

Devolve-me o meu primeiro mergulho, devolve-me o primeiro momento em que te senti, todos os búzios onde te ouvi, devolve-me a infância não cumprida. Devolve-me o tempo. Devolve-me o cheiro do churrasco nas dunas e os pés secos da minha avó na toalha bordada, devolve-me a cor do tecido dos chapéus de sol e o biquini de licra.

Fala-me da tua história inegável, dos abraços nas tuas margens, das despedidas da guerra, das mulheres que choraram ou dos poetas que eternizaram. Fala-me dos descobrimentos, dos que que te ansiaram e dos que te temeram, fala-me de resiliência, de fome, de amor e vitória. Fala-me do tudo e do nada. Fala-me da consequência do tempo, dessas tuas ondas que giram o cronómetro e transformam o mundo.

A ti Mar, a ti que és o meu sexto sentido. Devo-te a imensidão dos meus sonhos. Serás sempre a escala a que os meus olhos anseiam ver a vida. Ensinaste-me a sentir tudo com a profundidade do teu horizonte inalcançável, mas eternamente desejado. És o azul que transborda, és o meu coração despido, a minha mão aberta, és uma fé que não desagua, és a direção certa na hora de navegar.

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Zaask

Escritora e Fotógrafa