Um furacão chamado 2018

 

Apaga as luzes, sai de casa, vem sonhar. Vem de mansinho, vem da mesma forma com que acreditaste no mundo. Vem a tremer de medo porque é o medo que te segura. Trás a insegurança no olhar porque daí virá o melhor lutador. Vem com fé e com asas de vencedor. Vem com essa força disfarçada de timidez, essa alma tremendamente bela e pujante, essas veias de guerreiro que só a tua dor sabe que existem. Lembra-te que a vida é o que tu fazes dela e não aquilo que recebes dela. Trazes a tua intuição nos genes, os teus ideais na tua educação e todos os que por ti passam serão meras lições, banais tentações que a vida te oferece para que reconheças o caminho de volta a ti mesmo, o reencontro com a nossa essência. Um brinde a ti, 2018, por me mostrares isso mesmo. Foste o ano mais arrebatador, mais esgotante e mais desafiante. Serás o ano de que todos os outros anos terão inveja. Soubeste ser fogo, soubeste ser dor, soubeste ser amor, soubeste ser maturidade, soubeste ser metamorfose. Trouxeste brilho ao meu caminho profissional, força perante desafios sociais e humanos, trouxeste aventura quando eu mais precisei dela, trouxeste sofrimento quando eu menos esperei, trouxeste medo quando eu menos merecia, mas trouxeste nitidez ao meu conceito de ser mulher. Chorei contigo, gritei, desesperei e parte de mim desejou que o mundo acabasse. Mas feridas só existem em guerreiros, naqueles que foram à guerra e que não se intimidaram pelo olhar do inimigo. Sopraste ventos que derrubaram o castelo das minhas expectativas e quando mais julguei que não aguentaria, foi quando mais me superei e levantei. Mostraste-me que para cada sofrimento existe uma meta e que para cada vitória existe um momento para festejar e para sermos gratos. Ofereceste-me um novo conceito de fracasso, porque viver com amor e resiliência não é fracassar em nenhuma parte do mundo. Cair não é perder, é aprender. É saber que depois de uma queda tens ainda mais montanha para escalar, mais intimidade com a tua dor e mais uma oportunidade de te transformares, conheceres e contrariares a monotonia de quem vive constantemente no topo da montanha e nada aprende sobre desilusões. Permitis-te que eu chegasse mais perto da verdade, entregaste-me um novo eu e um capítulo que teve tanto de sofrimento como de bênção. As pessoas mais erradas foram as que mais me construíram, as maiores loucuras foram sempre as maiores aprendizagens, as maiores quedas são hoje os maiores impulsos de vida. A minha alma renasceu na proporção dos meus antigos medos, superei e saltei as labaredas do fogo da ansiedade e rejeição. Conheci muitas pessoas mascaradas de falácia e que tantas premissas me escreveram no argumento da vida. Aprendi a sentir o ar doce das manhãs mesmo quando os meus olhos pediam para sonhar mais uma vez, aprendi a ouvir o som dos passarinhos quando a angústia me dominava, aprendi a sentir a subtil melodia do piano e a dançar ao sabor das notas mais estridentes, aprendi a sorrir para os dias de chuva porque neles eu pude olhar para o chão e ver o meu reflexo a dizer-me que estou mais perto do céu. Hoje em dia as minhas lágrimas são as minhas pedras da calçada, respiro com a tranquilidade com que o orvalho surge, aprendi a viver num inverno gelado e a saber esperar pelo abraço caloroso dos sonhos, porque o calor humano vem de mim própria, vem de quem sorri para a vida e nada espera dela. Aprendi a voar quando mais perdi o chão. Não permitas que pessoas prematuras na tua vida ditem novos caminhos, não permitas que pessoas cheguem e levem o melhor de ti, os sentimentos mais puros que guardas, porque eles são o teu tesouro, são a prova da tua humanidade, o teu caráter. O amor não se entrega de bandeja, conquista-se. Mas amar é ser fraco, eu sei. Permite-te ser fraca enquanto a pessoa do outro lado não souber o que perde, entende que às vezes ser-se fraco é ser-se forte, porque cais em ti mesma, vences orgulhos e contornas os silêncios gelados que tanto impede que relações comecem. Mas quando te sentires a desmoronar recua e sê a princesa que queres ser. Não são as que pessoas que te fazem chorar que são merecedoras das tuas lágrimas e tampouco serão a elas a dar-te a mão e a justificar-se. Aprende a ser fénix por entre os destroços. Aprende a colocar-te na posição do outro. Aprende a conformar-te e a abdicar só quando for recíproco. Aprende a olhar-te, a conquistar-te. No dia em que te conquistares deixarás de receber mundos inferiores ao teu. Que sejas sinónimo de sonho, que sejas sinónimo de ti próprio. Comete a ousadia de seres quem és mas não desistas desse teu caminho sonhador de quem acha que o amor realmente existe. Desamarra-te do círculo vicioso que é a vida, não caias em padrões quando podes cair em ti mesmo. Liberta-te. Constrói-te. Sê ativa no processo de descoberta e não culpes o destino pelas tuas próprias escolhas. Antes de existirem as consequências já existia a tua atitude submissa. Recorda-te do teu valor. Não queiras mudar as personagens secundárias da tua vida porque elas são os figurantes da tua ambição, e se realmente gostares delas oferece-lhes a prenda mais bonita e valiosa: a sua liberdade. O mundo prepara-nos para a pobreza de espírito, para um foco virado para o exterior e não interior, mas inverte os papéis e afirma-te. Amadurece os teus sentimentos e acarinha-os. Olha à qualidade dos teus amigos e não à quantidade, porque pessoas não são troféus, são ilhas de paz, e não precisamos de muitas para sermos felizes. A vida só é um jogo se tu quiseres que seja e só será uma guerra de orgulhos se te esqueceres da tua saúde emocional. Lembra-te que para o amor não existem padrões, mas para o teu coração tem de existir uma norma: a dedicação. Lembra-te que o maior guerreiro é aquele que um dia pronunciou "desisto!".

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Zaask

Escritora e Fotógrafa