Cleópatra do amor
Desesperei ao sentir as dores reais do
comodismo
Caminhei a passos largos em direção ao
abismo
Camuflei-me a mim própria com conjeturas
fugazes
Abracei a inconstância como os
alcoólicos audazes
Abafei o meu espírito com os olhos
postos na rebeldia
Mas isto foi um mero ato fruto da
cobardia
Dentro de mim boiavam as frustrações da
rotina injusta
Aguentar aquilo tudo, só com uma mente
muito robusta
Ouvia as quimeras a rugir-me debaixo da
pele
A quererem liberdade como quando um
pintor pega no pincel
Baloiçavam as algemas das obrigações nos
meus pulsos
Já só queria ver os fantasmas do meu
cérebro expulsos
Até que um
dia o mundo virou decerto do avesso
Corri para
a felicidade com um enorme apresso
Rapidamente
o meu coração tomou as rédeas da minha vida
E num ápice
me tornei pelo mundo acolhida
Tudo fez
sentido com esta viragem monumental
E a alegria
instalou-se com um sentimento sobrenatural
Nesta ilha
de sonhos só me apetece brindar
Brindar ao
aroma das flores e ao sol que voltou a brilhar
Festejar o simples facto de uma fêmea
dar à luz
E criar uma sociedade nova isenta de
tabus
Assim me soltei das cruéis garras das
normas
Que me amarravam na racionalidade e me
chicoteavam as costas
Que me lançavam explicações e tornavam a
vida menos clara
Que objetivavam sentimentos e esfregavam
contratos na cara
Que esboçavam caricaturas da magia da
paixão
Mas a química entre alguém não tem limites
nem explicação
Viver sem este impulso equivalia a um
desmaio
E nunca será possível beber o amor de
tubos de ensaio
Aterroriza-me ir de malas feitas a caminho
da cidade
Procurar um novo rumo às portas da
Universidade
Todos sabemos que de veias quentes a
distância endoidece
Mas está mais que provado que o
sentimento fortalece
Ser refém do amor até Deus faz comover
É a capacidade de olhar pelo outro até
outra lua nascer
É o desejo de presenciar até envelhecer
É o saber demonstrar, mas não o saber
escrever
Mas é muito mais que isso, é fazer a
bondade florescer
É possuir um olhar puro e dar
interpretação ao viver
Antes chorava pelo stress das
expectativas não atingir
Agora só choro pelo medo da mutualidade
deixar de existir
Olho para trás e só vejo a estrutura de
um túnel invernal
Ao qual ultrapassei veemente com uma
atração colossal
Agora vivo o momento e não dramatizo
Porque as minhas pupilas tomaram a
silhueta de um sorriso
Se numa
gota reside o amor eu vivo num constante oceano
O meu
sentimento é verdadeiro e deveras soberano
Perante um
pedido de casamento eu logo direi: aceito
Se a minha
vida fosse uma flor, ele seria o amor-perfeito
Vivo na
esperança de este ser um amor eterno
Porque sem
ele ao meu lado congelaria com o frio do inverno
Respiro a
qualquer segundo com o pensamento num desejo
O de poder
acordá-lo todos os dias com um beijo
As
promessas não são efémeras nem o “para sempre” é vão
Tudo, agora,
faz sentido nos labirintos do coração
É bom saber
que depois de uma trovoada seguem-se raios de sol
E a vida se
transforma num subtil canto de rouxinol
E assim
agradeço na minha vida este alvoroço
Porque
assim se rejeita a fobia de viver em carne e osso
Uma vénia
faço à perfeição e uma coroa coloco ao temor,
Declaro-me
serviçal da fealdade e Cleópatra do amor
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