O capítulo da Tese de Mestrado


Qualquer que seja o sinónimo de sofrimento, alegria ou paciência, nenhum fará jus à explosão sentimental que delineou este percurso. Foram noites sem fim e domadas pelo medo de não conseguir, dias em que os raios de sol não pareciam existir para que eu os visse, fins de tarde em que o pôr do sol acompanhava o decréscimo das minhas forças, madrugadas que em nada rimavam com rejuvenescimento. Mas cada dia era uma nova oportunidade de acreditar e agora sei que acreditar é conseguir, porque sonhar é por si só realizar. A palavra desistir passou muitas vezes pela minha cabeça, mas não foi nunca pronunciada porque era expressamente proibido ajustar o meu mundo à dor que nele existia. Não poderia permitir que o sofrimento virasse rotina, e então converti isso em força interior. Não façam perguntas, simplesmente ela surgiu. Pelos meus pais, amigos, por mim mesma! Mesmo sem uma origem concreta, as forças existem. Porque tu existes. Pela primeira vez na vida sentes o peso do teu futuro nas mãos e sentes que só precisas de mais um esforço para chegar lá e concretizar o teu sonho de caloiro. Orgulhar a pessoa ingénua que entrou na faculdade com medos e receios e mostrar-lhe, agora, um profissional que finaliza o seu trabalho com mérito. Os dias foram passando e aquilo que parecia tortuoso foi-se transformando em algo a que chamas-te de tese. O dia de a apresentares não é fácil. Reduzes-te ao medo que não queres sentir, à insegurança que não te caracteriza, ao desespero que nunca julgarias transparecer. Por mais que te digam que é um mero trabalho que irás apresentar e que ninguém chumba numa tese, todos ampliamos essa dor, todos tornamos aquele momento mais dramático do que aquilo que é. Mas ninguém é alvo de troça, ninguém é ameaçado, ninguém sai de lá esqueleto como eu imaginei nos meus pesadelos. São seres humanos que estão ao teu dispor para te ajudar. São perguntas sensatas e não julgadoras. E se as pernas tremerem, diz-lhes que parem porque não está a ocorrer um sismo e sabes que todos os que te são próximos estarão a torcer por ti. Esse foi o meu grande alento, saber que não estava sozinha nisto e que existia muito altruísmo à minha volta. À saída percebi que todo o mundo girava ao mesmo ritmo, nada mudou a não ser o meu batimento cardíaco, depois de amanhecer ia novamente chegar a noite, os passarinhos continuaram a cantar docemente, a azáfama da cidade tivera sido exatamente a mesma, os rios continuaram a correr em direção à foz, a família e amigos continuaram presentes, nada mudou. Então porquê tanta dor? Respira e vai em frente.

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Zaask

Escritora e Fotógrafa