Conquista-me


Conquista-me. Surpreende-me. A tua irreverência vem sempre a horas. Não te vitimizes pelo que te levou a chegar atrasado, sorri apenas e prova que aquele momento compensou por todas as horas preso no trânsito. Não precisas de dizer que pensaste em mim durante a noite, mas espero que os teus olhos reflitam a insónia que te causo. Não precisas de revelar o melhor de ti nem o melhor dos estereótipos, basta que o teu caráter me transmita confiança e o teu cavalheirismo traduza admiração. Conquista-me com a tua melhor jogada desde que eu seja a tua maior vontade de arriscar. Não me olhes como um peão do teu tabuleiro, mas como a rainha que te faz ver as tuas antigas conquistas como algo trivial. Admira-me mas não faças de mim um troféu. Não cries degraus de virtudes nem patamares que nos afastem, cria elos de ligação, de chama, de paixão. Não te contentes em olhar quando te podes aproximar, não poupes nas palavras quando elas forem a única coisa que nos liga. Não priorizes o mundo virtual, mas faz-te presente nele para que possamos estar unidos na distância. Não me conquistes com a tua melhor literatura, não faças de mim a página de um capítulo de romance onde a estética literária prevalece. Faz de mim o teu melhor poema físico, a tua melhor provocação e faz da ousadia a ponte que nos une. Não me vejas como uma viagem de barco, sem que exista mar e se navegue sem remos. Não desfrutes da viagem sem seres merecedor dela. Entrega-te como te entregas ao teu mundo em que te inspiras. Entrega-te como entregas as tuas palavras para o silêncio remetente em noites frias de poesia. Faz-me acreditar que as estrelas se alinharam para que nos conhecêssemos, para que juntos fôssemos a constelação mais brilhante do céu que nos viu crescer todos os dias. Faz-me acreditar que podes engrandecer as minhas vitórias, repartir as minhas angústias, faz-me acreditar que és o topo da montanha da minha vida e que mesmo um naufrágio ao teu lado pode ser belo. Não elogies só para me teres nos teus braços, elogia quando eu já existir no teu abraço, para que o encanto das palavras não seja um banal embuste, mas sim um reforço caloroso de cumplicidade. Eu não quero ser apenas uma carapaça que desperta atenção numa noite de festa a não ser que rapidamente o meu interior te fascine, não quero ser uma mera companheira de cafés sem que eu seja o calor desse café que mora no teu coração, não quero ser uma expectadora das tuas lentas decisões a não ser que me surpreendas de forma intensa e inesperada, não quero ser o primeiro lugar da tua caixa de mensagens se antes não for a tua maior confidente, não quero ser a pausa do teu dia se posso ser aquilo que lhe dá sentido, não quero ser o escape da rotina mas que a rotina seja um escape de nós, não quero ser um projeto do futuro quando posso ser a alegria do teu presente. Não quero que me leias, quero que me explores. Ninguém é somente aquilo que lê ou escreve, ninguém se resume ao seu mundo sonhador nem é essa a melhor faceta que contacta com o mundo exterior. Eu não quero ser a capa do teu livro quando posso ser a pessoa que te dá a mão na rua. Quero mais. Quero alguém de carne e osso, alguém real e não uma personagem. Conquista-me de forma a que me faças acreditar que quero ser conquistada. Conquista-me com um toque rebelde e que afirme a nossa falta de lucidez. O maior poeta não é aquele que escreve sobre amor, ser poeta trata-se de saber amar, saber conquistar. Conquista-me sem limites e frases politicamente corretas, simplesmente conquista-me. Mas não me faças criar raízes, faz-me criar flores e que, juntos, as possamos regar.

Comentários

Zaask

Escritora e Fotógrafa