(Re)nascer


Quero falar de inspiração, de positivismo, de revolução. Quero falar-vos de um milagre belíssimo a que assistimos todos os dias: a vida. Não se trata apenas de respiração e de batimentos, trata-se do propósito com que o fazemos, do motivo inspirador que domina a razão de viver e da forma como acolhes os teus próprios passos. Eu acredito que tudo se resume à força da mente e à nossa vontade de viver e sentir a vida em nós. Resume-se sobretudo à nossa forma de interpretar as circunstâncias. Devemos entender que as repreensões dos nossos pais ao acordar nos espelham a sua vontade para que sejamos pessoas melhores, que o pássaro que nos borrou a camisola nos falou em liberdade, que uma resposta torta que recebemos nos falou em formato de desabafo. Devemos entender que música alta nos fala de boas vindas, que cusquices alheias nos falam da nossa importância, que o sentimento de saudade nos aproxima das coisas mais maravilhosas que já vivemos. Devemos entender que um engarrafamento nos fala sobre o valor do tempo, que a falta de rede ou de wifi te fala acerca de prioridades, que a proximidade dos bancos do comboio te fala de sociabilidade. Devemos entender que erros que cometem connosco nos potenciam o desafio de saber perdoar, que o afastamento dos outros nos dá a oportunidade de provar mais uma vez aquilo que somos ou de entender a sua incapacidade em lidar connosco, mas ao mesmo tempo entender que quando lutam por nós e nos fazem sentir especiais, que devemos saber aceitar isso, absorver essa felicidade, porque felicidade não se nega. Devemos aprender a lidar com despedidas e reencontros. Aceitar o que vai, porque certamente já não te acompanha ou acrescenta, e aceitar o que vem, porque existirá lugar na tua vida para essa vinda. Devemos entender que aquela bola que rebolou com força até aos nossos pés nos lembrou da inocência das crianças, que essa bola é o seu único objetivo e único problema com que estão preocupados naquele momento, e ainda assim dão um pontapé nesse problema, o que nos faz relembrar do quão grande é a amplitude que damos aos nossos problemas e tão pequena a resistência que lhes oferecemos. Sejamos a nossa prioridade, o começo e o fim das nossas carências, o nosso princípio básico e necessário para se ser feliz. Tudo o que depender dos outros que sejam acréscimos e nunca pilares. Valorizemos a solidão e lembro-nos que por detrás de alguém solitário está alguém que sabe apreciar o seu próprio tempo. Por detrás de alguém bajulador está uma pessoa a precisar de receber sem que isso seja uma exigência, desativar-lhe o conceito de bajular e o hábito de o fazer sempre que precisa de algo. Por detrás de alguém convencido está uma pessoa que precisa de ouvir um elogio sincero ou ter uma amizade duradoura para que isso preencha as falhas da sua auto estima. Por detrás de alguém durão está uma pessoa com um alvo sentimental enorme e que precisa de sentir que um elogio dado por si é importante, que existem pessoas a aguardar o seu carinho e a sua dedicação. Por detrás de alguém egoísta está uma pessoa que no passado já deu demasiado de si mesmo e precisa somente de reconsideração. Todo o defeito precisa de um reforço que o faça dominar e fazer brotar o lado humano de cada um. Cada uma destas pessoas precisa de se completar. Nós somos seres sociais e que devemos saber lidar com o mundo e as pessoas que nele habitam. O segredo está em ajudar os outros, em dar-lhes a mão, até que a construção humana seja tão alheia como pessoal. Construir os outros e deixarmo-nos construir é a melhor forma de evolução recíproca. Praticar o bem e implantar bons ensinamentos é o lema. Acima de um bom profissional, de uma alargada popularidade, de grandes círculos de amigos, de prestígio, de dores e sofrimentos, de pobreza ou riqueza e, principalmente, acima da cara metade que tanto procuramos está o bonito ser humano que somos. Penso que tudo se resume a uma incessante busca pela simplicidade, praticando a resiliência e a aceitação. A vida é demasiado bela para a passarmos a questionar sobre o porquê de não reconhecerem o nosso valor, porque nós temos o nosso valor intrínseco e por detrás de cada lição de vida que pregamos e por cada mão que estendemos existe alguém grato pela nossa presença e preocupação, alguém a agradecer e a valorizar, alguém cujo olhar nos pede para permanecer na sua vida. Essas pessoas não precisam de ser aquela que nos coloca a aliança no dedo, são aquelas que partilham a sua vida connosco de outras formas, que viajam connosco, nos atendem os telefonemas e dão sentido ao nosso dia a dia. Porquê esconder-nos por detrás de um esteriótipo que nos consome? De um padrão social que nos poderá trazer baixeza?  Focarmo-nos no bem da sociedade nunca poderá ser levado como perda de tempo.

Comentários

Zaask

Escritora e Fotógrafa