Coimbra: o amor mais apaixonante


Pelas cortinas do meu recanto vejo o sol a esconder-se ao sabor de mais um dia nesta bela cidade. É melancólica e silenciosa a forma como a saudade antecipada nos aperta o coração. Não vejo isto como mais um dia nas tuas ruas, mas como menos um dia nos teus braços, porque a saudade faz-nos contar de forma decrescente e o sentimento arrebatador de viver em ti só nos faz pensar no dia em que tudo irá terminar e na vontade de te querer descobrir todos os dias da nossa vida. Cada sombra desse escurecer desenha em mim um traço mais fundo e marcado dos teus fados, aquele ritmo inconfundível e que faz de nós mesmos um verso que compõe as tuas quadras e completa o teu espírito académico. E, assim, o dia adormece ao sabor da melhor academia, da cidade que não dorme, nem para festejar nem para sonhar. A ti, Coimbra, que me ensinaste a sonhar mais alto e a pular também mais alto para alcançar grandes feitos, só tenho umas quantas coisas a dizer-te: foi nas tuas ruas que se desenhou a minha liberdade, nos teus fados que descobri a efemeridade da vida, foi nas tuas festas que se despoletou a minha verdadeira felicidade, nos teus dias melancólicos que nasceu a minha força interior. Foi nos teus jardins que percebi que a paz também existia longe das nossas origens e que me fez pensar de uma forma universal, porque se sou feliz aqui também existe, agora, potencialidade dentro de mim para ser feliz em qualquer lado: a isso se chama ganhar asas. Tu deste-me essas asas! E todos os dias me dás os melhores ensinamentos para voar. Foi nas lágrimas que brotavam por entre as capas que me ensinaste que ser universitário é só a melhor experiência da nossa vida e que, afinal, a saudade existe e é passível de ser sentida e objetivada sempre que respiro o teu ar puro. És diferente do resto do mundo e de forma tão peculiar consegues suster tantas vidas e tantos sonhos, tantos gritos de euforia com um fundo de amor à vida enorme, tantas lágrimas de amor puro que por ti se verteram, tantas mãos que entrelaçaste com o teu amor, tantos passos apressados que limaram as tuas escadas monumentais, tantos sapatos que calçaste a todas as cinderelas, tantas guitarras gastas com o tempo que deram aos estudantes as melhores e mais grandiosas baladas, tantas boas vozes a quem deste a grandiosidade para que fizessem eco pela cidade em dias de serenata, tantas fitas de tantas cores a contrastar com os belos negros trajes académicos, tantos sorrisos implantados pelas ruas em dias de praxe ou em dias de batismo, tanta juventude, tanta rebeldia, tanta transparência! Obrigada pelo que nos fazes ser a cada dia e que tanto contribuas para o nosso crescimento. Obrigada por durante uns tempos eu, bem lá no fundo, te considerar o único motivo pelo qual remava em favor da minha valorização pessoal. Obrigada por me teres acolhido com tanto amor, mesmo com todos os meus defeitos, com todas as minhas fraquezas e mesmo quando te culpei por todos os meus erros. Obrigada por teres sido persistente e, de dia para dia, me teres mostrado o mundo que tinha à minha frente, me ensinares que às vezes a vida é como um teatro, onde nos basta levantar o pano para vermos e saborearmos a vida que está mesmo à frente dos nossos olhos. Mostraste-me a beleza de cada esquina ainda por percorrer e mesmo quando percorridas ensinaste-me a viver cada momento sempre de uma forma única e diferente, pisar cada paralelo como se fosse a primeira vez, com os meus passos de caloira, mas um amor à vida gigante. Quero levar o teu céu estrelado no meu bolso, quero a força do leito do teu mondego a tomar as rédeas das minhas decisões, quero poder refugiar-me em ti sempre que o meu coração pedir, quero que pelo menos um sapato do traje que me deste me possa sempre servir mesmo quando já for velhinha, quero continuar a valorizar-me da forma como tu sempre me valorizas-te, quero poder ir espreitar as tuas igrejas e sempre encontrar uma cerimónia de benção das pastas que me faça relembrar do quanto fui feliz e do misto de emoções a abanar aquelas fitas. Quero, acima de tudo, que nunca te esqueças de mim e do quanto me ergui graças a ti. Quero que, apesar de eu ser só mais uma estudante que por aqui passa, te lembres que te adoro e que nada do que aqui passei me foi indiferente. Que continues, ao longo de geração em geração, a seres amada e a aumentares as multidões de capa negra que em nada rimam com luto. É ao teu pôr do sol que nascem textos como este e é ao sabor da tua perfeição e autenticidade que existe sentido em cada palavra. E assim me despeço com paixão e saudade, com alegria e tristeza, com amargura e tranquilidade, com um sabor doce e amargo, mas com a certeza de que é este misto de emoções que me mantém viva.

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Zaask

Escritora e Fotógrafa