Primeiro ano universitário


Bem, foi mais um ano que passou, mas não foi um ano qualquer. Foi atribulado e sofredor, lento e dramático. E não, não estou a ser pessimista, simplesmente posso dizer que nem me senti eu própria, que não soube como agir em situações que antes nem sequer pestanejava, mas a universidade assusta qualquer um. Nem a pessoa mais capaz se sente com estofo no meio daquelas constantes todas. Já muito se falou aqui no blog, mas de uma forma resumida posso dizer que, no fundo, as amizades que considero que valeram a pena foi a melhor coisa que restou. Nada mais considero que tenha sido espetacular... As praxes e todo o enredo que já abordei, na minha opinião, deviam acabar, porque só deitam mais abaixo uma pessoa, o facto de ser tudo novo para nós, desde a cidade à nossa almofada, o chegarmos a casa e não termos a nossa mãe a chamar-nos a ir para a mesa e a dizer que fez a nossa comida favorita, as pessoas que se aproximam de nós e no dia seguinte nos vêm como sombras, os telefonemas diários que sabem sempre a pouco, tudo isso mexe connosco, mesmo parecendo que não. Mesmo os momentos de abandonarmos a cidade e irmos de férias me faziam sofrer por antecipação, porque só pensava que ia ser tudo passageiro e que daqui a nada tinha de apanhar novamente o expresso, ir de noite a ouvir músicas melancólicas e a esconder as lágrimas. A minha mãe sempre me disse o ano todo que eu era uma exagerada e que precisava de crescer, mas então porque me mandam para uma cidade sozinha se ainda não cresci? Ela não entende, nunca ninguém vai entender... E ela lá reforçava que no tempo dela o quarto e a cozinha eram na mesma divisão e que a mesma casa de banho era dividida por dez pessoas, mas eu tenho alguma coisa haver com o que se passou à cinquenta anos? Será que era por eu adormecer com o cheiro a comida nos lençóis que ia ter menos saudades? Que por passar horas na fila da casa de banho ia esquecer a distância? Óbvio que não! As saudades para mim pesam tanto como se tivesse um mundo de pedra à costas, o querer estar perto de alguém e não conseguir é dos sentimentos mais terríveis, porque é humanamente impossível voar ou encurtar estradas com o pensamento, é totalmente ridículo pedir ao vento que se transforme na respiração de alguém. É claro que quando a rotina se instalou a minha capacidade para pensar positivo foi maior, afinal limitava-me a fazer o trajeto casa-escola e como ia sozinha podia ir por percursos mais longos para poder pensar na vida mais tempo. No fundo, isso era bom, porque não tinha a minha mãe a ligar-me super preocupada, é claro que qualquer adolescente gosta de um pouco de liberdade. Mas também se não estivesse tão longe de casa nem sequer tinha necessidade de pensar na vida, de refletir sobre o aqui e o agora, não me sentia obrigada a olhar para o céu, forçada a pedir paz. A minha vida prende-se totalmente às minhas origens, mas qualquer pessoa que não sinta uma relação excessivamente próxima com o lugar da sua infância eu aconselho a aproveitar ao máximo as novas amizades, a liberdade com prudência, os cenários novos que vemos ao ir para a escola todos os dias, as novas crenças, novas formas de pensar e preservar a mente, é sempre interessante fazer uma viagem prolongada, mas é apenas para quem não se importe que a sua vida vire do avesso. Porque acima de tudo, é preciso coragem!

Comentários

  1. querida, senti o mesmo no meu primeiro ano de universidade. uma das coisas que mais diferença fez foi qd mudei de casa, o segundo ano melhorou e no terceiro já me sentia mesmo em casa. por isso, deixo-te a pergunta? tens um bom ambiente na casa onde estás? tens bons companheiros de casa?

    desejo-te muita sorte e felicidades

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  2. Fico feliz que te tenhas identificado! Acredito que a adaptação seja progressiva, espero que tudo corra melhor neste segundo ano. Eu tinha um bom ambiente, sim, às vezes um pouco barulhento, mas as pessoas eram muito acessíveis, simpáticas e boas companheiras :) Mas este ano vou mudar de casa, porque em princípio vou mudar de pólo da universidade, mas isso é algo que falarei futuramente aqui no blog.

    Muito obrigada e beijinhos!

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  3. O primeiro ano é sempre o de adaptação, é um ano de muitas dúvidas, de 'será que estou no sítio certo', 'será que é mesmo isto que eu quero'? Muitas vezes achamos que os outros estão bem mais certo que nós mas são muito poucas os que não se questionam tanto, a maioria deles, principalmente os que estão fora de casa, ou têm mesmo uma certeza invulgar, ou têm um suporte fenomenal (e uma sorte enorme em relação às pessoas certas que conheceram) que os vai aconchegado nos momentos de maiores incertezas e de desespero.
    O segundo ano tem tudo para ser melhor :) boa sorte

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    1. Exato, questionei-me tantas e tantas vezes! E sim, há quem tenha vantagem sobre nós, principalmente quem é mais extrovertido e vive mais perto da cidade universitária. Quer digam que não, os "coimbrinhas" têm uma sorte enorme! Espero que tenhas razão, muito obrigada pelas palavras :)

      Beijinho!

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    2. Quem são os coimbrinhas? :p

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    3. É uma expressão que se usa para nos referirmos às pessoas que são de Coimbra e estudam lá, ou seja, têm a casa dos pais na cidade em que estudam. Quem me dera!!

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  4. sair de casa dos pais para ir estudar para fora e uma experiencia fantastica

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    1. O que eu quero dizer é que me custou bastante, mas acredito que agora no segundo vá ficar com uma ideia positiva de tudo! :)

      Beijinhos

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  5. Gostei muito de ler esta reflexão, especialmente, porque me identifico com tudo o que referiste nela. Apesar de estar relativamente perto de casa, custou-me bastante vir para um sítio diferente. Sei que é normal e a adaptação é progressiva e ainda bem que assim é. Não foi fácil nas primeiras semanas e ainda está a ser um bocadinho difícil, mesmo indo a casa aos fins-de-semana, mas já estou muito mais integrada do que pensava que ia estar. :)
    Obrigada pelo texto, é sempre bom saber que há mais gente que compreende como é sentir tudo isso nessa nova fase da vida.

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    1. Oi, fico sempre feliz que se identifiquem! De facto, o tempo cura tudo e é bom teres a plena noção disso. Agarra-te a essas pequenas coisas e até um chuva se tornará sorridente :)

      Beijinho!

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  6. Oi, obrigada pela simpatia! A essência de um escritor(a) inclui essa felicidade de vermos o que escrevemos ser valorizado. :) Desejo-te o mesmo! :D E é importante lembrar que sem chuva não temos como saber o que estar sol e que mesmo no meio da chuva mais intensa há-de haver o mais pequeno raio de sol a brilhar para nos ajudar. Tudo do melhor para ti!
    Beijinho!

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Zaask

Escritora e Fotógrafa