Ricardo Araújo Pereira 13*

"Quando, na semana passada, se soube que o ministro Miguel Relvas até teve equivalências a três cadeiras que não existiam, a notícia levantou sobretudo problemas filosóficos. (…) Ou seja, Miguel Relvas, que foi licenciado antes de o ser, pode agora deixar de o ser sem nunca o ter sido. Quem está em maus lençóis não é Relvas (como, aliás, é costume sempre que há problemas com Relvas) mas a Lusófona. Pode uma universidade tirar ao ministro algo que ele nunca teve? E se Miguel Relvas se licenciar na floresta e não estiver lá ninguém para ouvir, a licenciatura fará barulho? Porque é disso que se trata: do barulho que se pode fazer com a licenciatura. (…) Antigamente, a licenciatura servia para arranjar emprego. Hoje, é capaz de atrapalhar. (…) A licenciatura é só para enfeitar. Acaba por ser um escândalo que Miguel Relvas precise mesmo de se licenciar para que o tratem por doutor. Creio que cada pessoa devia poder escolher a forma de tratamento deferente que lhe parecesse mais apropriada e aplicá-la ao ministro sem necessidade da mesquinha verificação de que ele possui realmente as habilitações que permitem esse tratamento. É o que vou passar a fazer relativamente ao almirante Miguel Relvas. (…) Os novos factos revelam que o ministro estudou não só cadeiras que existiam como cadeiras que não existiam. Normalmente, a matéria das últimas é bastante mais vasta do que a das primeiras. E a bibliografia bem mais difícil de encontrar. (…) O escuteiro-chefe Miguel Relvas encontra-se agora, injustamente, numa posição ingrata. Já se sabia que tinha feito um curso com equivalências, e sabe-se agora que eram equivalências a cadeiras imaginárias. Por isso, o visconde Miguel Relvas tem com a sua licenciatura a mesma relação que Portugal tem com a dívida: talvez consiga cumprir as suas obrigações, mas precisa de mais tempo. O melhor é reestruturar a licenciatura. Vamos esperar que o juiz desembargador Miguel Relvas consiga chegar a um acordo com a universidade."

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Zaask

Escritora e Fotógrafa