Sentimento esfarrapado

Sinto-me estranha pelo simples facto de andar a reflectir e a recear o futuro. Também sinto medo, é um facto, e sou a primeira a admiti-lo. Parece que fico sem chão, sem esqueleto, é um calafrio abrupto que incursa no meu corpo. E vocês perguntam o porquê deste sentimento quase temerário. Bem… tinha e tenho eu uma vida calma, mas aquelas audaciosas ânsias começaram a aparecer. Foi aqui que parei, olhei para trás e finalmente olhei para a frente exasperante. Será verdade que daqui a relativamente pouco tempo eu vá ganhar independência? E será que vou mesmo ter que andar sobre quatro rodas? E aprender a cozinhar de verdade? E pior, distanciar-me de pessoas que adoro? Não vou permitir que o único contacto entre essas pessoas sejam umas banais teclas de um aparelho horrendo. Suborno-me a mim própria para pensar que isto não passa de um devaneio e que rapidamente se vai escapulir, ou que sou mais alguém com um ar famélico, devido a uma fome vã. Mas a verdade é que me sinto num asilo intricado, obscuro, difícil de compreender, confuso. Parece que essa futura e triste vida age com galanteios e tamanho janotismo para que eu ceda, mas não vou ceder!!! Só quando o tempo me amarrar, me passar por cima e me apear e demolir. Se calhar a minha personalidade está feita para viver num lar rotineiro e maravilhoso e não para levar golpes baixos com o pretexto de arranjar profissão e como todos dizem “ser alguém na vida”. Suplico que me largue o frio imundo que me percorre os dedos, a água salgada rica em minerais que me humedece a pele, as azeitonas negras que se encaixam nos meus olhos, o suor repentino que não provém do desporto, o coração saltitante que não provém da paixão... Serei uma atada, ou simplesmente alguém que quer viver em paz? Só se ressoa o eco de uma palavra na minha mente: "Universidade".

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Zaask

Escritora e Fotógrafa